Casa de vó, tardes de domingo, família reunida, café quentinho que foi passado na hora. Um bolo de banana com canela, outro com cobertura e recheio de brigadeiro e um bolo clássico-fofinho, fatiados de qualquer maneira, a espera da próxima mão que pegará só mais um pedacinho.
Deu pra sentir o gostinho daí?
O Projeto Casa, em sua essência, quer ser como essa casa de vó. Onde cabe mais um, onde é possível retornar sempre que desejar. Onde nos refazemos, nos reencontramos. É um lugar de formação, de troca de experiências, de aprendizado e sei que é um tremendo desafio querer algo assim, ainda mais on-line, mas pouco a pouco, essa casa tem sido construída e sedimentada com muito empenho.
Os “vizinhos”, como são conhecidos os participantes do Projeto, são psicanalistas, educadoras, psicólogas e psicólogos que trabalham ou dialogam com a psicanálise. São pessoas que trazem sua prática para o debate, nas construções e demolições do fazer clínico, onde podemos perceber o quanto a psicanálise permaneça viva e atuante.
A Estante Psicanalítica e o Projeto Casa começam a partir de duas dores:
Criei a Estante no ano de 2017, em um momento muito difícil da minha formação acadêmica. Naquele ano, tranquei o curso de psicologia, na faculdade que era o meu grande sonho. Estar longe da graduação dava a sensação de estar perdido e pouco a pouco aquilo foi me consumindo. Até que frente a esse vazio, decidi recomeçar, precisava recomeçar. Era um questão de vida. Encontrei nos livros da psicanalista Françoise Dolto algo que só havia sentido com Freud: a sensação de ser compreendido. A teoria nomeava o que vivi na pele. Assim escolhi a psicanálise como ferramenta de trabalho, por ter me visto naquelas linhas, por ter provado, no divã, a força que ela tem.
Estar fora da faculdade, sem saber quando voltaria, foi a minha primeira dor. A segunda foi quando no ano passado, em um dos cursos que promovi, uma participante fez uma pergunta que reverberou em mim. Desde então, meus dias resumem-se a questionar sobre o quanto saímos da faculdade despreparados. Todas as atividades da Estante para 2023 já estavam montadas, depois dessa situação, mudei completamente o norte. Não só uma falha percebida no outro, mas também em mim. É aí, nessas “dores inquietantes” onde nasce o Projeto Casa, no receio de estar fazendo o que Lacan chamou de “ortopedia do ego” e não uma verdadeira psicanálise.
O Projeto nasce com o intuito de contribuir com a formação teórica e prática de psicólogas, psicólogos e psicanalistas. Ele carrega o nome “Casa” por ser um espaço que sempre cabe mais um, um espaço que pode aceitar cada sujeito e seu desejo. Onde é possível aceitar o convite da Dona Florinda, que tanto ouvimos na infância, para entrar e tomar uma xícara de café. É possível entrar em casa e se demorar.
O significante “casa” sempre esteve conosco. Vocês já perceberam isso? Na história dos três porquinhos, protegendo sua casa do Lobo. Na história de João e Maria, entrando na casa de doces da Bruxa. A casa da Fera onde o pai de Bela ficou hospedado, a casa dos 7 anões amigos da Branca de Neve. A casa da vovozinha onde a Chapeuzinho quase foi abocanhada pelo Lobo. A casa do Sítio do Pica-pau Amarelo… Casa também é um dos desenhos mais favoritos das crianças pequenas e é para onde desejamos retornar depois de uma dia cansativo de trabalho. O espaço-casa é onde formamos o nosso espaço-corpo. Dolto teorizava sobre a importância que a casa tem para as crianças. Neste sentido, o Projeto Casa deseja (em seus impossíveis) ser esse espaço de contribuição para a formação de todos os desejantes que quiserem por aqui ficar.
Tema: “Os primórdios da formação psíquica do bebê”
Psicanalista convidada: Lia Batista
Carga horária: 8h
Tema: “Introdução à obra de Melanie Klein”
Psicanalista convidado: Marcelo Medeiros
Carga horária: 6h
Tema: “O que nos ensinam as crianças que não aprendem”
Psicanalista convidada: Rosa Marini Mariotto
Carga horária: 3h
Curso IRDI – Indicadores de Risco para Desenvolvimento Infantil de 0 a 18 meses
Psicanalista convidadas: Cristina Keiko e Maria Eugênia (Lugar de Vida)
Carga horária: 8h
Tema: “Primeiros passos na clínica psicanalítica com crianças”
Psicanalista convidada: Kelly Brandão
Carga horária: 6h
Tema: “Introdução à obra de Winnicott”
Psicanalista convidada: Maria do Carmo Camarotti
Carga horária: 6h
Tema: “O pagamento simbólico na psicanálise da criança”
Psicanalista convidada: Luis Carlos Batista
Carga horária: 3h
Tema: “A diferenciação do autismo e da psicose na clínica psicanalítica”
Psicanalista convidada: Inês Catão
Carga horária: 8h
Tema: “A criança diante da morte, do segredo e da psicanálise”
Psicanalista convidado: Allan Mohr
Carga horária: 9h
Tema: “A prática psicanalítica na UTI Neonatal”
Psicanalista convidada: Marianne Cordeiro
Carga horária: 6h
Padrinhos Poéticos do Projeto Casa
Adélia Prado
Manoel de Barros
Pouco a pouco serão adicionadas aulas, além dos cursos e grupos, que contribuam com a formação dos membros do Projeto Casa. Essas aulas envolverão não apenas conteúdos voltados à psicanálise, mas também a arte, a “criação de quintal”, o artesanato, a poesia, a contação de história, a leitura dramática dos textos de Adélia Prado e Manoel de Barros, trabalhando e fazendo outras interlocuções possíveis, que compõem a base de uma/um profissional que trabalha a partir da noção do inconsciente e do sujeito enquanto ser linguageiro e desejante.
Tema: “Introdução a obra de Sándor Ferenczi”
Psicanalista convidado: Fábio Belo – UFMG
Carga horária: 3h
Tema: “O conceito de sujeito em Jacques Lacan”
Psicanalista convidado: Lucas Pires
Carga horária: 3h
Tema: “O início e a propagação da peste: os primórdios da psicanálise”
Psicanalista convidada: Luana Timbó
Carga horária: 5h